Juro longo encosta em 14% depois de ‘tarifaço’ de Trump
A imposição de tarifas de 50% pelos EUA sobre produtos brasileiros trouxe pressão adicional aos ativos locais nas últimas semanas. O impacto foi especialmente sentido nos juros de longo prazo, que passaram a exigir um prêmio de risco maior diante da combinação entre o conflito comercial em curso e as incertezas sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil.
Em julho, o dólar acumula alta de 1,59% frente ao real, enquanto o Ibovespa recua 3,63%. Nos juros, a deterioração é ainda mais acentuada: a taxa do DI jan/35 subiu de 13,27% para 13,91%, refletindo um aumento na inclinação da curva, com os vértices longos sendo mais penalizados que os curtos.
As ações do governo brasileiro para conter os efeitos da tarifação dos EUA reforçaram a percepção de que um acordo entre os países pode demorar a acontecer. A declaração de Trump — de que apenas países com “mau relacionamento” com os EUA enfrentarão a tarifa de 50% — ampliou a incerteza sobre a resolução diplomática do conflito.
As incertezas fiscais no Brasil se somam a preocupações globais, segundo nosso gestor de renda fixa, Carlos Mello. Ele destaca que a fragilidade da dívida pública brasileira fica ainda mais evidente diante de movimentos semelhantes em outras economias. “E as nossas taxas longas sofrem essa influência, o que é normal, dado que nossa dívida/PIB está na faixa de 80%. Temos de lidar com esse financiamento em algum momento”, afirma.
Apesar do ambiente desafiador, a Asset 1 vê algum espaço para distensão monetária e tem mantido posições táticas: “Estamos aplicados em juros mais curtos e, pontualmente, abrimos posições tomadas [apostas na alta] nas taxas mais longas, mas fazemos isso de forma bem mais tática”, explica Mello.“Isso não significa que vemos o prêmio de risco embutido nos juros longos como sendo alto.”